John Ajvide Lindqvist publicou o seu primeiro livro em 2004, precisamente Let The Right One In, e desde então tem publicado um livro por ano, tendo o segundo sido uma história de zombies, o terceiro uma compilação de histórias de terror e finalmente uma compilação de crónicas jornalísticas. Foi o próprio autor quem adaptou Let The Right One In para o cinema, ele que já tinha escrito também para séries televisivas. E foi mágico de rua. E comediante de stand up.
Let The Right One In tem uma premissa cativante. Oskar é um menino de doze anos que habita nas imediações de Estocolmo e sonha em vingar-se dos colegas que o humilham na escola. A nova vizinha do lado, Eli, uma menina da idade dele, revela-se uma oportunidade de crescimento, amizade e amor. Mas o facto de ela ter doze anos há bem mais do que doze meses pode ser uma complicação.
No mesmo ano da adaptação cinematográfica de Crepúsculo (publicado em 2005), chega da Suécia um drama muito mais interessante entre um menor e uma vampira. Oskar é ingénuo no que cabe a sentimentos e está numa idade em que não sabe o que é o amor, mas Eli é mais velha. Nunca nos é revelada a verdadeira idade dela, mas é patente que é franzina e recorre a um homem de idade, que a acompanha, para que mate por ela. Quanto mais se dá com Oskar, mais ela se comporta como uma criança. Esta interacção é interessante, mas levanta problemas. Se ela é uma jovem ou uma mulher, apesar do seu corpo, não terá necessidades que não podem ser satisfeitas por Oskar? Ou ter-se-á transformado antes de as hormonas da puberdade se desenvolverem?
O realizador Thomas Alfredson não tem experiência cinematográfica, e nota-se. Há nele uma preocupação técnica inegável e os enquadramentos são cuidadosos, adoptando um compasso melancólico e preocupando-se que este seja adequado à narrativa, mas infelizmente a metodologia arrasta-se na falta de intensidade, fazendo o filme circular demasiado tempo em ponto morto. Um pouco mais de ambição não teria feito mal nenhum.
Há cenas que desiludem, como a agressão de Oskar ao colega ocorrer em simultâneo com a descoberta de um cadáver nas proximidades; a acção não se concentra em nenhum dos eventos e ambos saem diminuídos por essa inépcia. Há uma cena em que um homem desconfiado vai investigar a casa onde Eli mora; mas surge dentro da casa como se se tivesse teleportado, não se percebendo como entrou numa casa estranha cuja porta estaria compreensivelmente trancada. Também a brutalidade da cena na piscina faz torcer o nariz à dificuldade que Eli demonstra em dominar as duas vítimas anteriores.
História de amizade e marginalização, Let The Right One In tem momentos deliciosos na aproximação entre Eli e Oskar, como o diálogo sobre o facto de namorarem não mudar nada entre eles ou os pequenos sacrifícios que Eli faz para que Oskar goste dela. E tem o mérito de apresentar, pela primeira vez, o que pode acontecer a um vampiro se entrar numa casa sem ser convidado.
Apesar de tratar-se de um filme actual e ter sido premiado em inúmeros festivais internacionais, a Overture Films e a Hammer Films adquiriram já os direitos e preparam um remake falado em inglês, a realizar por Matt Reeves, realizador de Cloverfield. Espera-se o pior, já que Cloverfield não se caracterizou pela menor subtileza. E ainda pesa na memória recente o remake apressadíssimo de [Rec] (2007), Quarentena (2008).
Låt den rätte komma in 2008
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