Monday, November 5, 2018

O Primeiro Encontro, de Denis Villeneuve

Próximo do slogan “ir para fora cá dentro”, os encontros imediatos de grau não violento têm, usualmente, a finalidade de permitir, através da óptica extraterrestre, um ilusório “olhar de fora para dentro”. O visitante mais inexpressivo até à data chegou em 2001 (1968) e, desta vez, arredondou os contornos e traz polvos dentro. São quase duas horas a assistir ao processo de aprendizagem de uma nova escrita e o primeiro contacto extingue-se na concretização da máxima de que o pensamento humano está limitado às suas próprias barreiras linguísticas, algo que pode ser ultrapassado caso adopte uma nova, neste caso de caligrafia circular, abrindo-se a percepção sensorial à não linearidade do tempo e, consequentemente, à consciência do futuro com a mesma exactidão que o passado. A implicação é a de que, de algum modo, isto irá potenciar igualmente a unidade, a compreensão e a paz entre as diversas culturas. E sem banda sonora de John Williams.
Na senda de filmes como Encontros Imediatos de Terceiro Grau (1977) e Contacto (1997) – se tivesse aguardado menos de dois meses, os três filmes teriam estreado com 20 anos de diferença entre si – o alcance filosófico é o de que a harmonia pode substituir a desconfiança entre fronteiras desde que a partilha seja honesta e total. E, porque Insterstellar (2014) foi buscar buracos negros para mascarar o paradoxo da predestinação inspirado por Terminator(1984), Arrival (2016) tenta desencantar uma fonte paralela à da econometria aplicada tendencial, dispensando o tempo histórico linear e as linhas cíclicas, apostando num novo entendimento que tem tanto de falacioso que de tendencioso: é a linguagem que limita a cognição, acreditar dissipa os limites ao conhecimento como um percurso, a Terra não é redonda, mas plana, e num dia de céu azul vemos toda a extensão da nossa existência, do nascimento à morte, o melhor é não irmos ver aquele filme ao cinema porque já o vimos em streamming, daqui a três meses, e não vai melhorar.
Depois de uma enérgica ode à testosterona (Sicario, 2015), uma contemplativa melodia de progesterona. A comunicação com extraterrestres ficou por conta de Amy Adams e Jeremy Renner acompanhou-a para cumprir a quota do homem branco, que já havia um negro e um judeu no posto avançado. Denis Villeneuve trouxe-os para a sala de aula e até se perceber que a protagonista tinha visões do futuro graças ao léxico alienígena, o mistério alimenta a curiosidade, mas o surrealismo final é uma afronta à inteligência e à gnose matemática. Baseado no livro de Ted Chiang Esta É A Tua Vida, onde a oferta extraterrestre não era a revelação de uma língua unificadora, mas a distribuição por diferentes nações de equipamentos técnicos concretos que facilitariam a sobrevivência humana desde que os seus líderes aprendessem a partilhar os conhecimentos.
Arrival 2016

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