Conceptualmente, Joss Whedon deve ter dado pulos de contente com a sua genialidade, mas esqueceu-se que ser espertinho não chega. Todos os filmes de terror passados em bosques repetem os mesmos ingredientes até à exaustão: os inquilinos da cabana são jovens com as hormonas aos pulos, reunidos por classes: a oferecida, o desportista, o ganzado, o marrão e a virgem. Depois de desfeitas as malas, vão ignorar os avisos para não mexerem em algo que deviam deixar quieto e, com isso, convocam forças malignas que vão dizimá-los pela ordem acima definida. A virgem será mantida para o final, podendo ou não sobreviver, dependendo da sua própria diligência.
Joss Whedon pegou nessa fórmula (que, eventualmente, terá os seus expoentes máximos no triunvirato Evil Dead, Sexta Feira 13 e Massacre no Texas, multiplicados pelo vírus das sequelas, remakes, plágios e variações), dividiu-a em componentes, separou o essencial do supérfluo e adicionou todas as referências de cartilha que cimentassem a sua teoria. Por fim, e esta é a sua tão badalada novidade, colocouThe Truman Show no topo.
Infelizmente, o malabarismo não é uma das suas virtudes e os três dias que levou, com Drew Goddard, num quarto de hotel, a burilar o guião, devem ter sido passados com metade do cérebro ocupado com os Avengers. A ideia central de A Casa na Floresta é a de que há forças por trás do acaso e que este é, afinal, objecto de manipulação segundo um propósito global, o cumprimento profético de sacrifícios aos deuses, praticado desde tempos imemoriais por todas as civilizações. Os filmes de terror, não são, assim, obras de ficção escapista, mas evangelhos instrutivos. Tudo isto estaria muito bem, se a dupla não se tivesse esquecido de um pormenor: o entretenimento.
De cada vez que o filme é rotulado como sendo de “terror”, as aspas surgem a defender o termo, como guarda-costas. Efectivamente, apesar de roubar elementos ao género, A Casa na Floresta não se leva a sério. Frustra em suspense, saltos na cadeira e em qualquer outro tipo de emoção, incluindo o humor (onde, em regra, Whedon está à vontade). É um objecto pseudo-filosófico, algo próximo do que Wes Craven já fez há vinte e dois anos atrás, quando abordou a sua criação, Freddy Krueger, sob uma luz diferente, naquilo a que chamou de Novo Pesadelo (1994). Declarava-se aí que Freddy não era apenas um monstro do celulóide, mas que, no presente histórico, o seu mediatismo levara o Diabo a adoptar-lhe a fisionomia como encarnação do Mal, para maior efeito. O cinema reflecte a realidade, uma vez mais.
Para piorar as coisas, A Casa na Floresta entrega o ouro demasiado depressa. Antes mesmo da prematura frase “Lembras-te de quando se podia simplesmente atirar uma virgem para dentro de um vulcão?”, já sabíamos que havia equipas tácticas a postos e que o recinto da cabana era protegido por uma rede eléctrica invisível. A partir daqui, ninguém esperava um mero ataque de zombies e os personagens tornam-se joguetes. Antes de voltarem ao pó.
A ligação entre Whedon e Goddard encontra-se na escrita das séries Buffy, Angel eDollhouse, a que não é alheia a partilha dos actores Amy Acker e de Fran Kranz. A Casa na Floresta podia, perfeitamente, ser um episódio de qualquer das séries, passado num mundo de sonho, de onde acordariam no dia seguinte para um episódio dito normal. Goddard foi, ainda, produtor e argumentista da série Lost, caracterizada por atirar ao público todo o tipo de dúvidas e mistérios, mas incapaz de resolver qualquer que fosse. Mesmo a propósito.
Cabin In The Woods 2012
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